A segunda vida do avião

Carcaças de aeronaves são adquiridas em leilões e transformadas em museus, bares, restaurantes e no que mais a criatividade dos empresários fãs de aviação permitir, inclusive em uma moradia

Freddy Charlson

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Empresa faliu, avião ficou velho, os voos não constam mais na planilha, acabou a vida útil dessas máquinas? Finish, the end, zé fini? Não mesmo! Há, acreditem, ainda muitas funções para as carcaças de boeings, jatos, teco-tecos e afins de empresas que não mais existem – alguém aí pensou em Varig, Vasp, Transbrasil, por exemplo? – adquiridos em leilões que ajudam as companhias a pagar suas dívidas trabalhistas ou referentes a impostos atrasados. Ora, que tal transformar um antigo avião num salão de festas, museu, restaurante ou boate?

As opções são tantas e espalham-se pelo País como uma agradável erva daninha. De norte a sul, tem gente que anda investindo dinheiro na aquisição de carcaças de avião, tirando-as do pátio dos aeroportos e salvando-as do mato, da poeira e da ferrugem. Caso dos últimos 28 aviões da Viação Aérea São Paulo (Vasp). Duas dessas aeronaves vão virar playground em Itapejara D’Oeste, no Paraná, e Contagem, em Minas Gerais, por exemplo.

Empresários de Brasília, Belo Horizonte (MG) e São Luís (MA) querem montar restaurantes com as carcaças. Em Araraquara (SP), um empresário reforma uma dessas carcaças pra transformá-la em um espaço de eventos. E nas cidades de Petrolina (PE), Nanuque (MG) e Urutaí (GO), os empreendedores querem expor os aviões ao lado de bares e restaurantes para atrair a clientela. Vai que cola.

Em comum, o desejo de perpetuar histórias do período clássico da aviação brasileira e, quem sabe, transformar as sobras de aviões em um lucrativo negócio ou até em um lugar para morar. Não existe mais bobo no mundo da aviação/entretenimento. Não existe mesmo. Conheça, abaixo, alguns destinos inusitados dessas máquinas que tantas vezes cruzaram os ares e que fazem parte da vida de milhares, de milhões de pessoas.

DE CARCAÇA A RESTAURANTE

carcaca1Em Taguatinga, cidade do Distrito Federal distante 20 quilômetros do centro de Brasília, por exemplo, os donos de uma carcaça de avião planejam transformá-la em um restaurante. A carcaça está estacionada numa chácara, na avenida Elmo Serejo, que liga os bairros de Taguatinga Norte ao Centro. A expectativa é colocar o “negócio” – um Boeing 767-200, que pertencia à Transbrasil, empresa que faliu em 2002 – em funcionamento até o final deste mês. O avião, quase todo montado, chama a atenção das pessoas, que param para tirar foto e ficam curiosas a respeito da sucata do Boeing da antiga Transbrasil. A ideia dos novos donos do avião é transformá-lo numa lanchonete de fast food, com direito a sala de videogame para as crianças na antiga cabine de comando, além, também, de um simulador de piloto conduzindo a aeronave. E, olha que legal, as asas do avião devem virar um terraço para refeições a céu aberto. Dentro, as poltronas serão realocadas e devem virar uma mesa com quatro lugares.

BOATE POTIGUAR DENTRO DA AERONAVE

carcaca2E Mossoró, a segunda maior cidade do Rio Grande do Norte, vai ganhar uma nova boate. Até aí, tudo bem, o povo nordestino também gosta de baladas. O diferencial nessa história é que o tuntistum vai rolar dentro de um antigo avião da Vasp. Tudo por conta do rescaldo propiciado por leilões da massa falida da companhia que veio a óbito em 2005. Ora, se as aeronaves podem virar playground, centro de treinamento, restaurante e afins, porque não uma boate? Afinal, o avião já vem cheio de luzinhas. Dá-lhe Mossoró!

RESTAURANTE EM POÇOS DE CALDAS (MG)

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Em Poços de Caldas, na região sul de Minas Gerais, um empresário projeta um grande restaurante dentro de um avião com 57m de comprimento. Thiago Oliveira, 26 anos, quer atrair turistas de todo o País. Sobrinho de pilotos, ele comprou o DC8 num leilão de aviões impedidos de voar da empresa cargueira Skymaster. Ele já investiu R$ 1,5 milhão no projeto com capacidade para 300 pessoas e que vai servir comida mineira, japonesa e árabe, à la carte. O avião-restaurante ficará às margens da rodovia do Contorno, a sete quilômetros do centro da cidade. Pra brincadeira ficar ainda mais bacana, a ideia é colocar um simulador de voo de Airbus. O plano é reformar a cabine e botar o painel pra funcionar. E, então, portas em automático. Só pela ideia, acho válido o cliente pagar os 10% de consumação…

PARA PRESERVAR A HISTÓRIA

carcaca4Um bar ou um restaurante. É só nisso em que pensa o empresário e farmacêutico Rogério Tokarski quando olha para a carcaça do Boeing 737-200, comprada em um leilão judicial, direto da massa falida da Vasp. O empresário tem vários projetos em mente quando olha pra carcaça. Todos levando em conta o desejo de preservar a história da companhia e da aviação brasileira e, claro, gerando renda com a “sucata”. Restos de um 737-200 que integrava a massa falida da companhia, ao lado de outros 17 antigos aviões, sem as turbinas e espalhados por oito aeroportos, leiloados em 2013 para quitar as dívidas da empresa.

CARCAÇAS NO AEROPORTO

carcaca5Duas carcaças ainda vivem, largadinhas, no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, à espera para o fim desse abandono. Tratam-se de duas aeronaves, modelos Boeing 727 e 737, da extinta Varig. O suplício do que foram grandes máquinas de voar deve acabar em breve. Um dos aviões foi adquirido em leilão pela Escola de Aviação Flight e deve ser removido ainda este ano para um pátio próximo à escola, e servirá para treinamento dos alunos, em cursos de instrução de voo, mecânica e comissário de bordo. A aeronave deve até ganhar um simulador de voo na cabine. O outro avião foi comprado por uma empresa que quer transformá-lo num espaço cultural. O leilão ocorreu em junho de 2012. Desde 2011, já foram negociados mais de 50 aviões de grande porte estacionados em grandes aeroportos do País.

FESTANÇAS NUM BOEING

carcaca6Amante da aviação, o piloto Edinei Capistrano, 57 anos, levou para Araraquara (SP), um Boeing 737, comprado num leilão de massa falida da Vasp. O monstrengo de 25 toneladas e 28 metros de comprimento vai virar um espaço de eventos. Edinei pagou R$ 133 mil pela aeronave que teve que ser desmontada por 20 pessoas e ser levada em duas carretas do Aeroporto de Congonhas, na capital paulista, até o interior. Tudo para transformar o bom e velho Boeing 737, um dos últimos exemplares de uma era da aviação brasileira, num espaço de eventos em Araraquara, com o objetivo, também, de preservar a história. Ah, se quiserem fazer festas de aniversário no lugar, as pessoas poderão até cantar parabéns dentro do avião. A aeronave fez história na aviação brasileira, entre as décadas de 1960 e 2000, servindo, além da Vasp, companhias aéreas como Varig e Cruzeiro.

MORANDO NO MEIO DA FLORESTA

carcaca7Você achou essas “segundas vidas” dos aviões um tanto estranhas? Pois é, em Oregon, um estado da terra de Barack Obama, um engenheiro adquiriu a carcaça de um Boeing 727-200 e está vivendo dentro do avião. Depois de pagar US$ 100 mil (R$ 330 mil), Bruce Campbell, 62 anos, reformou a aeronave e a transformou em sua casa. Ele retirou as fileiras de cadeiras da cabine principal e transformou o espaço em quarto, sala e escritório. O banheiro da aeronave ganhou um chuveiro e a casa-avião ganhou um sistema de encanamento e de eletricidade. O mais bacana, porém, é o chão translúcido, que deixa o visitante ver o tanto de fios e maquinário que são necessários para manter essa geringonça no ar. E aí? Curtiu a ideia?

5 respostas em “A segunda vida do avião

  1. é uma pena ver aeronave destruidas as vezes pelo tempo agora sucata….
    tenho uma empresa de reciclagem em minas gerais tenho muito interesse em participa dos leiloes

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